sábado, 21 de janeiro de 2012

"BANCA ANGOLANA NUNCA LUCROU TANTO"

12-12-2011
Do site: Exame Angola
Por Luís Leitão


A banca nacional está de boa saúde e recomenda-se. Este bem podia ser um dos “chavões” utilizados por José de Lima Massano, governador do Banco Nacional de Angola (BNA), numa qualquer intervenção pública, ou até o slogan de uma campanha de marketing do Governo para incentivar os cidadãos a abrirem uma conta bancária e deixarem de colocar o dinheiro debaixo do colchão (por acaso até foi realizado uma campanha este ano, embora com um slogan diferente). 

 É indesmentível que o ano 2010 correu bem à banca tal como concluem os relatórios anuais das consultoras KPMG e Deloitte sobre o sector, que foram divulgados em Novembro. Enquanto no ano passado se assistiu ao avolumar da crise financeira pelos quatro cantos do mundo, Angola passou entre os pingos da chuva desta tempestade e teve no último ano o seu ponto de viragem, com a economia a crescer, após um ano de 2009 de forte desaceleração do PIB, e com a banca a crescer mais do que a economia. “O comportamento do sector bancário angolano manteve a tendência de crescimento em praticamente todas as rúbricas de análise
— activos, crédito, depósitos e resultados —,
não obstante o ritmo de crescimento ter sido menor do que noutros anos, mas ainda assim, acima da economia”, constatam os especialistas da KPMG.


A verdade é que 2010 voltou a ser um ano de recordes para a banca. A começar pela evolução do produto bancário, que registou um crescimento de 24,2%, “explicado sobretudo pelo forte incremento da margem financeira que cresceu 53,2%”, refere a KPMG. Também no capítulo dos lucros os números foram surpreendentes: de acordo com os resultados líquidos do exercício apresentados por 20 instituições financeiras, compilados pela Deloitte, os lucros do sector totalizaram 128 mil milhões de kwanzas (1278 milhões de dólares), mais 22% face a 2009, o equivalente a 6930 kwanzas (74,6 dólares) por cada angolano. Nunca a banca lucrou tanto. A verdade é que 2010 voltou a ser um ano de recordes para a banca. 

A começar pela evolução do produto bancário, que registou um crescimento de 24,2%, “explicado sobretudo pelo forte incremento da margem financeira que cresceu 53,2%”, refere a KPMG. Também no capítulo dos lucros os números foram surpreendentes: de acordo com os resultados líquidos do exercício apresentados por 20 instituições financeiras, compilados pela Deloitte, os lucros do sector totalizaram 128 mil milhões de kwanzas (1278 milhões de dólares), mais 22% face a 2009, o equivalente a 6930 kwanzas (74,6 dólares) por cada angolano. Nunca a banca lucrou tanto. 

Destaque para os resultados do Banco Espírito Santo Angola (BESA) e do Banco Millennium Angola (BMA) que aumentaram mais 80%. No caso do BESA, este crescimento explosivo traduziu-se também na liderança do ranking dos bancos nacionais mais rentáveis, ao contabilizar em 2010 lucros de 30 489 milhões de kwanzas. Porém, os lucros do sector continuam fortemente concentrados em apenas cinco bancos: Banco Espírito Santo Angola (BESA), Banco Fomento Angola (BFA, Banco Africano de Investimento (BAI), Banco Poupança e Crédito (BPC) e Banco BIC (BIC). 

De acordo com as contas do ano passado, estes cinco bancos foram responsáveis por mais de 82% dos lucros globais. “Verifica-se que continua a subsistir uma forte concentração. No entanto, tem-se assistido a uma gradual perda de quota de mercado relativa, indiciando a maior competitividade do sector”, refere a KPMG, dando como exemplo a ocorrência de alterações na quota de mercado ao nível das rubricas de activos, crédito e depósitos, em consequência da “intensificação do ambiente concorrencial”.


Se no capítulo da concorrência parece haver ligeiras mudanças, ao nível da rentabilidade do negócio bancário parece que não há grandes novidades, dado que os bancos continuam a criar riqueza: por cada dólar de capitais próprios, a banca nacional gera, em média, 30 cêntimos de lucros. Trata-se de uma rentabilidade dos capitais próprios (ROE) 1,74 vezes superior à oferecida pela média dos bancos africanos, mais do triplo do que o ROE dos bancos americanos e 5,4 vezes superior à média dos bancos europeus. Isto significa que os bancos angolanos estão entre as instituições financeiras mais rentáveis do mundo. Mas não só: estão também no lote dos bancos com maiores margens de progressão do planeta. Bancarização abaixo de paises vizinhos Os bancos angolanos estão entre os mais rentáveis do mundo. 

A rentabilidade dos capitais próprios é o triplo da média em ÁfricaOs bancos, tal como todos os empresários, olham para a economia nacional como um mercado constituído por quase 19 milhões de potenciais clientes. Nas contas da banca, este é um número bastante interessante, desde logo porque apenas 11% são clientes. Isto significa que pouco mais de 2 milhões de angolanos têm acesso a serviços bancários, segundo um estudo realizado pela ABANC, EMIS e Marktest, deixando assim uma ampla margem de crescimento de negócio para o futuro. “Esta baixa penetração da banca junto da população angolana, nomeadamente quando comparamos com outros países vizinhos ou mesmo outras economias emergentes, deixa antever o elevado potencial para o crescimento do sector, nos próximos anos”, lê-se no documento da KPMG. 

O combate da reduzida taxa de bancarização da população tem sido, anualmente, um importante foco da estratégia dos banqueiros nacionais. E foi com este sinal bem presente que, no ano passado, as instituições financeiras continuaram a investir na expansão da sua actividade, abrindo cada vez mais balcões e apostando numa crescente cobertura das 18 províncias que compõem o território nacional. De acordo com dados da KPMG, em 2010, foram abertos 150 novas agências bancárias, cerca de 12,5 balcões por mês, o valor mais elevado de sempre. 

Este investimento foi novamente acompanhado por uma forte aposta na rede de terminais, que se repercutiu num crescimento de 30% do número de Multicaixas (ATM) e num aumento de 60% de unidades de terminais de pagamento automático (TPA). Segundo a Deloitte, “o número de ATM aumentou para 1289 em 2010, comparativamente a 995 em 2009, e o de TPA cresceu para 12 140 terminais em 2010 face a 7587 em 2009”.


No seguimento deste investimento assistiu-se também a um crescimento exponencial dos meios de pagamento eletrónicos e a uma explosão do volume de levantamentos em ATM e compras em TPA. De acordo com os especialistas da Deloitte, o número de cartões de crédito e débito vivos (com pelo menos uma utilização) aumentou cerca de 25% em 2010 e os cartões válidos registaram um crescimento de 21%. Adicionalmente, “manteve-se a tendência de crescimento continuado no volume médio mensal de transacções, na rede Multicaixa, passando de 3,6 milhões, em 2009, para 5,5 milhões de transacções (média mensal) durante 2010”, refere a KPMG. 

Depósitos quadruplicaram em cinco anos Nos últimos 16 anos tem-se assistido a dois movimentos interessantes no mercado financeiro nacional: se por um lado o custo do crédito bancário para privados registou uma forte correcção, passando de uma taxa de juro média de 206% em 1995 para os actuais 22,5%, por outro, a banca passou de uma concessão de crédito equivalente a 5,3% do PIB em 1995 para um bolo superior a 20% do PIB no final do ano passado. Na prática, os empréstimos tornaram-se nove vezes mais baratos e o crédito disponível para empresas e famílias aumentou a um ritmo médio anual de 6%. Numa primeira observação destas estatísticas, pode até ficar-se com a ideia de que o crescimento de 9,9% ao ano que a economia nacional registou nos últimos 16 anos foi puramente artificial, gerado à conta da “mágica” alavancagem do crédito. 

Contudo, quando se analisa todo o quadro, a conclusão que se tira é exactamente a oposta. E tudo porque a base do sistema financeiro tem crescido de uma forma e equilibrada, nomeadamente nos últimos cinco anos: entre 2006 e 2010 os depósitos cresceram, em média, 43,58% por ano. Isto significa que a base de depósitos da banca nacional mais do que quadruplicou no espaço de cinco anos, passando de 617 mil milhões de kwanzas para 2622 milhões de kwanzas. No mesmo sentido seguiu o crédito concedido à economia, que desde 2006 aumentou a um ritmo médio anual de 53%, passando de 275 mil milhões de kwanzas, em 2006, para 1503 mil milhões de kwanzas, no final do ano passado. Esta evolução permitiu que o rácio de transformação de depósitos em crédito líquido sofresse um ligeiro aumento. De acordo com os dados compilados pela Deloitte, o crédito líquido sobre depósitos é hoje de 57%. Um valor distante da excessiva alavancagem que apresenta a maioria dos bancos europeus, por exemplo, actualmente a operarem com rácios de transformação acima dos 120%. Contudo, não passa despercebido o aumento verificado no montante agregado de crédito vencido (111,5% em 2010) como consequência de uma expansão rápida na concessão de crédito à economia nos últimos anos.

 “É importante que o sector bancário invista na sofisticação dos processos de avaliação de risco, na monitorização e acompanhamento da carteira de crédito e nos procedimentos de recuperação do crédito”, recomendam os técnicos da KPMG. Os especialistas acreditam que “este investimento permitirá [aos bancos] diminuir o rácio de crédito vencido sobre o crédito total concedido, que teve um acréscimo significativo de cerca de 80%, passando de 2,83%, em 2009, para 5,8%, em 2010”.


Desafios do sector para o futuro O dinamismo do sector financeiro nacional continua a ser visível este ano, com a banca a contabilizar um crescimento acentuado dos principais agregados nos primeiros seis meses do ano. Segundo o BNA, os depósitos apresentam um crescimento de 10,4%, o que representa uma aceleração significativa da taxa de crescimento face a 2010. No crédito, o crescimento fixa-se em 15,6%, pelo que se mantém a tendência de subida da taxa de transformação. Todavia, as consultoras Deloitte e KPMG salientam também os grandes desafios que a banca terá de enfrentar nos próximos anos. Sikander Sattar, presidente do conselho de administração da KPMG Angola, refere que as principais barreiras que se “colocam às instituições que operam neste sector, cada vez mais competitivo, estarão sobretudo relacionadas com a forma como vão capturar este potencial de crescimento, face aos (ainda) baixos níveis de bancarização da população angolana, bem como assegurar o contínuo investimento em recursos, que mantenham a prestação de um serviço de qualidade e adequado às necessidades do mercado angolano”.
Criaram-se 150 novas agências, mas a taxa de bancarização permanece baixa. Apenas 11% da população têm acesso a serviços bancários Acrescente-se que este conjunto de desafios ocorre num contexto económico global a braços com uma profunda crise financeira que, invariavelmente, terá um impacto no crescimento económico nacional. Sobre este ponto, Hélder de Aguiar, administrador executivo do Banco Africano de Investimento (entretanto denominado Banco Angolano de Investimentos) considera que “apesar da revisão em baixa das perspectivas de crescimento da economia angolana em 2011, o BAI irá manter a sua estratégia de crescimento, não deixando de estar atento às novas oportunidades de negócio e às exigências do mercado”. 

Na estratégia do banco com maior quota de mercado por total de activos, os principais desafios centram-se “no aumento da carteira de clientes, na expansão da rede comercial e na continuação da expansão internacional do negócio bancário de uma forma sustentada”, refere ainda Hélder Aguiar, no relatório da Deloitte. Os especialistas da KPMG salientam, por seu turno, “a necessidade de uma adequada estrutura de governação interna, a contínua monitorização, o controlo e a regulamentação do sector financeiro serão factores decisivos para suportar e reforçar o dinamismo que este sector apresenta, assegurando o sucesso do mesmo”. Neste sentido, a consultora destaca o papel fulcral do BNA, enquanto entidade de supervisão do sistema financeiro, “fazendo evoluir a regulamentação do sector no sentido de continuar a aproximar o grau de supervisão angolano dos standards internacionais”. Em cima das prioridades dos banqueiros estarão ainda um leque variado de outros desafios para o futuro. 

Nomeadamente ao nível da gestão do risco do crédito, que em resultado de uma expansão da concessão do financiamento bancário, tem-se assistido a uma “crescente preocupação com a qualidade e monitorização da carteira e implementação de processos de recuperação de crédito em incumprimento eficazes”, concluem os técnicos da KPMG. Em jeito de conclusão, o dinamismo do sector financeiro nacional é aplaudido pelas consultoras Deloitte e KPMG, mas a escolher uma má notícia ambas salientaram o controlo do crescimento do crédito vencido que registou um acréscimo de 80% em 2010. Como de costuma dizer “não há bela sem senão”. 

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 Fonte: http://www.exameangola.com

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